O clima em Moçambique é caracterizado por ser húmido e tropical, estando na lista dos países do mundo mais vulneráveis a catástrofes naturais, segundo as Nações Unidas. A época chuvosa 2013-2014 foi caracterizada pela ocorrência de chuvas extremas em particular na região sul do país nomeadamante, a província de Gaza, que resultaram em inundações e destruição de infra-estrutura. Centenas de moçambicanos morreram e outros milhares tiveram de abandonar as suas casas. Na presente época chuvosa, 2014-2015, as chuvas caem com alguma regularidade em todo o país, no entanto, diferente cenário vive-se nas zonas centro e norte tendo obrigado o Conselho de Ministros de Moçambique a decretar “alerta vermelho institucional” logo nos primeiros dias de 2015. Infra-estruturas destruídas, familias desalojas e dezenas de mortes foram o destaque da imprensa Moçambicana e não só, logo no inicio do ano novo.
As chuvas intensas resultaram num apagão desde o dia 12 de Janeiro de 2015 em toda a região norte do país (Niassa, Cabo Delgado e Nampula) e uma parte da provincia central da Zambézia. A falta de corrente elétrica deu-se devido ao desabamento de algumas torres que transportam a corrente eléctrica da rede nacional. Esta situação comprometeu a cadeia de frio nas unidades sanitárias que utilizam geleiras eléctricas para a conservação de vacinas. A província de Niassa é o nosso foco neste blog.
Para perceber no terreno qual o impacto deste apagão no programa Alargado de Vacinação, uma equipa da VillageReach visitou os distritos de Lago e Sanga, na provivíncia de Niassa. Constatamos que as unidades sanitárias que usam o sistema de rede eléctrica nacional haviam retirado as vacinas para Unidades Sanitárias com geleira de sistema solar. Contundo, a conservação das vacinas ainda constitui uma preocupação para as autoridades sanitárias locais, uma vez que as actividades de vacinação não estão a decorrer nos habituais postos fixos por falta de recursos para o manuseamento das vacinas dos locais onde estão a ser conservados.
As autoridades Sanitárias locais agiram com rapidez uma vez que as geleiras já marcavam temperaturas altas, muito acima do padrão recomendado pelas normas de conservação de vacinas (+2ºC a 8ºC).
Constrangimentos foram constatados nomeadamente, nenhum dos dois distritos tinha definido estratégias para vacinação, nove (9) Postos fixos de vacinação usando o caixa isotérmica de 7 dias. O congestionamento de vacinas nas unidades sanitárias com geleiras solares, visto estarem a receber vacinas de diferentes unidades, por exemplo, no distrito de Lago, três centros de saúde, incluíndo o centro de saúde sede e as vacinas do depósito distrital, tiveram de ser transferidas para o CS de Miluluca (com geleira RCW 50) que dista a cerca de 40Km de cada um dos três centros de saúde. Colmans com acumuladores estão a ser usados nos centros de saúde com falta de corrente eléctrica, reabastecidos, em média, em cada 7 dias. A sobrelotação das geleiras “receptoras”, como o CS de Meluluco, é uma realidade preocupante no que diz respeito as normas de conservação de vacinas. A estes constrangimentos, adiciona-se a falta de combustível para abastecer viatura/morizadas que devem efectuar o transporte das vacinas dos locais onde estão conservados para os postos fixos paralisados.
Futuras Implicações
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- Elevada percentagem de crianças não vacinadas durante o périodo do apagão;
- Maior demanda nos postos fixos após o restabelecimento da corrente eléctrica;
- Fádiga dos técnicos de saúde devido o enchente que irá se verificar nos postos fixos ;
- Fraca qualidade dos serviços e de dados.
Necessidade de reflexão!!!
Em quase todos os anos, Moçambique é fustigado por cheias e tempestades fortes que destroem infra-estruturas, a falta de corrente elétrica nas unidades sanitárias repete-se a cada ano quando estes fenómenos ocorrem. A compra de geleiras somente elétricas para o país, como está a acontecer neste momento com os fundos do HSS, é um assunto para melhor reflexão.